Pesca com Bomba

Definição

Mariana Conceição, no seu livro-reportagem “Agressão Além-mar: Pesca com Bomba, um crime social, culural e ambiental” escreve que a pesca com bombas é considerada um ato ilícito por afetar não só a cadeia alimentar, por destruir grandes cardumes e animais ainda em processo de maturação ou  em fase de reprodução, como também por afetar a biota aquática, destruindo corais, eliminando algas (alimento de várias espécies), etc.

Bomba

Pesca com Bomba

Essa ação degradante teve sua proibição decretada em 1967, através da Lei n° 221, de 28 de fevereiro, tendo o criminoso como penalidade uma multa de até dois salários mínimos. Já perante os artigos 34 e 35 da Lei Federal 9.605, a chamada Lei dos Crimes Ambientais, praticar pesca com bombas e/ou usufruir do pescado adquirido dessa forma são crimes com pena prevista de um a cinco anos de reclusão.

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Quando surgiu?

Tenente Cláudio, responsável pelo patrulhamento de Pesca com Bomba da COPPA, pontua que no final da Segunda Guerra Mundial as populações ribeirinhas começaram a observar que nos ataques, a utilização de granadas em áreas rasas fazia com que os peixes flutuassem. Então, depois das explosões, e quando os peixes flutuavam, os moradores das comunidades ribeirinhas recolhiam todos eles.

Mas, como eles não tinham o acesso fácil a granada, eles começaram a fabricar a bomba através de pólvora negra. Então, era uma coisa complicada, porque tinha que ser feito um artefato elaborado: eles tinham que jogar e essa bomba tinha que explodir exatamente quando caísse na água, se não ela apagava, porque o pavio era um cordão submergido com pólvora negra. Nos momentos de jogar a bomba no mar, eles não tinha prática, então ocorriam muitos acidentes: os pescadores perdiam braços e pernas  e muitos  deles morriam.

Contra-costa de Vera Cruz

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Como acontece?

O material químico utilizado na elaboração das bombas, ao explodir na água, emite um som que mata diversas espécies de peixes. Nesse momento de detonação da bomba, o som também mata outros animais que estão ao redor. Tiago Chagas, da PROMAR, diz que “o que o pescador vê que sobe é o peixe, mas ele esquece que pequenos crustáceos, animais bem pequenos, larvas de peixes, também morrem.” E isso gera uma reação em cadeia muito pior, que ao longo do tempo, fará com que ocorra a extinção dos peixes, porque a pirâmide alimentar é notoriamente afetada.

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Barcos em Itaparica

Outros pontos a serem destacados envolvem a ameaça que a bomba representa para o próprio homem. Se estiver alguma pessoa mergulhando próxima a área de detonação e escutar esse som, ele pode ter os seus tímpanos estourados ou até fazer com que ela morra afogada. E o feitiço pode virar contra o feiticeiro: em alguns casos os pescadores não lançam a bomba no minuto da detonação, e ela acaba estourando na sua mão, amputando os braços. ‘Seu Fifi’ é um senhor muito conhecido na Ilha de Itaparica por ter pescado com bomba durante muitos anos. A bomba amputou os dois braços dele. No momento da detonação alguns órgãos dele também ficaram expostos, e ele conseguiu sobreviver. Mas ele justifica, dizendo que é o que ele sabe fazer há muito tempo, às vezes ele via os familiares passando fome e tinha que pescar com bomba.

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Concluindo

O Doutor em Ecologia, Eduardo Dias, diz que embora os bombistas utilizem como argumentos para a prática de pesca com explosivos o aumento da produtividade do pescado, o aumento da renda familiar e a ausência de financiamento para atividades pesqueiras, os impactos desta prática têm profundas conseqüências ambientais, de natureza biológica e econômico-social.

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Os impactos de natureza biológica são a destruição da fauna e da flora, levando à quebra da cadeia alimentar; os danos ao patrimônio natural, representado por mangues, praias e recifes de coral; a redução da quantidade de peixes (no Brasil mais de 80% dos estoques pesqueiros estão esgotados ou super-explorados) e os danos à saúde (mutilação, morte, surdez e cegueira) de banhistas, mergulhadores e dos próprios bombistas, em conseqüência das ondas de choque provenientes da explosão. Os prejuízos de ordem econômico-social são: a baixa produtividade, o declínio da pesca, a redução do potencial de trabalho (mutilação) e os danos ao patrimônio público e privado.

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